EM BAIXO DOS TRAPICHES NAS MARGENS
DO RIO ITAJAÍ AÇÚ
quantos passos eu
teria contado até chegar ao cargueiro panamenho quantas linhas de solda seriam
preciso para juntar a pele de seu dorso a ilusão de sua respiração pausada na
casa de máquinas seus andares de tubos até a direção de tudo sua madre do leme
de longe ainda debaixo dos trapiches onde os velhos jogavam
seus puçás e urinavam na sombra
azinhavrada eu temia o corpulento navio panamenho e sua hélice de garra
cortante temia que as amarras pudessem
estourar e nada o deter de sua força feito um gordo bêbado caindo sobre as
mesas do bar verão vermelho
ele estava ali parado e era dia e eu podia correr e fugir
de sua fuga estava ali preso nos cabeços do cais enterrado de barriga no lodo
desta cidade
esse terror da figura negra do navio e suas sombras dançantes na água de sua cor
na noite de pequenas luzes contra os contornos da igreja de navegantes das
carteiras de cigarros camel jogadas do bordo pelos marinheiros noruegueses dos
trilhos dos guindastes e da vida subterrânea da estiva e dos consertadores
esses eram os passos medidos até eu chegar perto do
cargueiro panamenho ter coragem de passar a mão no seu costado e sentir suas
cicatrizes de soldas um animal submergível na água uma cidade marinha flutuante
de perto tanto medo pendurado de bandeiras como um continente uma ilha que de
longe me pareceu tão lindasubindo as margens do Itajaí açu