terça-feira, 29 de janeiro de 2013



EM BAIXO DOS TRAPICHES NAS MARGENS
DO RIO ITAJAÍ AÇÚ

quantos  passos eu teria contado até chegar ao cargueiro panamenho quantas linhas de solda seriam preciso para juntar a pele de seu dorso a ilusão de sua respiração pausada na casa de máquinas seus andares de tubos até a direção de tudo sua madre do leme

de longe ainda debaixo dos trapiches onde os velhos jogavam seus puçás  e urinavam na sombra azinhavrada eu temia o corpulento navio panamenho e sua hélice de garra cortante temia que as amarras  pudessem estourar e nada o deter de sua força feito um gordo bêbado caindo sobre as mesas do bar verão vermelho

ele estava ali parado e era dia e eu podia correr e fugir de sua fuga estava ali preso nos cabeços do cais enterrado de barriga no lodo desta cidade

esse terror da figura negra do navio  e suas sombras dançantes na água de sua cor na noite de pequenas luzes contra os contornos da igreja de navegantes das carteiras de cigarros camel jogadas do bordo pelos marinheiros noruegueses dos trilhos dos guindastes e da vida subterrânea da estiva e dos consertadores

esses eram os passos medidos até eu chegar perto do cargueiro panamenho ter coragem de passar a mão no seu costado e sentir suas cicatrizes de soldas um animal submergível na água uma cidade marinha flutuante de perto tanto medo pendurado de bandeiras como um continente uma ilha que de longe me pareceu tão lindasubindo as margens do Itajaí açu

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