quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Google Earth

52°10´52.94N
  4°28`25.57L


Dez imagens da Holanda

Maratonista belga na estrada de Oegstgeest

sua melhor qualidade
era olhar azul
seu número de sorte
Duzentos e dois
passsou correndo a pequena maratonista belga
Agnes Van de Castella
a moça que ofertava um  copo d`água
aos maratonistas na estrada de Oegstgeest
tinha o nome de Theodora Nagel
não imaginava estar grávida de meu avô

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

sou um gorila acabado
um gorila acinzentado
com um copo de merlot

vejo programas de chefs
tenho carro na floresta
e fama de boa praça

um gorila acinzentado
é um bicho grande e burro
sentado na sua gerência

vou continuar

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Poemas do Google Earth


os poemas do google earth são inspirados no poema Fotografia aérea de Ferreira Gullar

ODAWARA  

35graus 15´02.27¨N
139 graus 09`18. 34¨L


como combinado por e-mail
encontrei fernando no portal de odawara
lavado de vento pelos sakurás

quando chegou escondeu um riso de descrédito
afinal era seu desejo se comover
depois de tanto tempo

esperando esse hanami de abril

pouco lhe falei
afinal havia doze anos esperava o trem
para me encontrar em kioto
nos corredores sombrios do templo dourado

Para Fernando Karl

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

TIO TIÃO E O BOTA GRANDE SOBRE O RIO TIJUCAS

Sebastião Nagel
acompanha o fantasma do bota grande
em seu passeio pela praia.
Seguem os dois calados
em direção ao sul do rio.

Sobre as águas do rio Tijucas
o bota grande caminha.
Segura Tião pelos cabelos
para que não suma no redemoinho.

Depois Tião tira do casaco
a metade de um continental sem filtro.
Passando o cigarro um pro outro
de longe se vê os dois fantasmas,
discutindo coisas da vida.

Poema inacabado para Maria do Rocio

Poderia ter amado Maria do Rocio
Durante aquela hora em que ficamos nus
A teria amado enquanto se despia
E seus pelos mais íntimos
Se avermelhavam
Na luz do verão do nosso quarto
Fiquei com medo de Maria do Rocio
De seus dentes abertos de mulher mentirosa
Da paixão incendiária
Que por ela sentia
Fogo devorando o carbono
Para se revelar a cor
Dos cabelos rúbios
dos olhos azuis
A pele branca da mulher de 24 anos
A voz que sopra meu ouvido até hoje
A paixão dos beijos mais ferozes
Do gozo mais livre
Naquele corpo que a luz
Permitia olhar
Poderia ter amado Maria do Rocio
Andado pela Praça dos Leões de mãos dadas
Com ela pedia
Sendo mais que um menino para ela
Um mês ela se foi e eu não sei para onde
Nunca mais nada soube
Sobre o paradeiro de Maria do Rocio
Nunca mais o riso e os dentes separados
A luz de sua nudez em meu sótão
Foi bom ter esquecido aquele corpo
Foi bom nunca mais ter visto seus olhos
E seus cabelos e seu rosto e os pelos de seu braço
Seria desepero encontrá-la agora
Num site de buscas
Num sala de bate papo
Tão distantes daqueles dias sem fim
Do pouco dinheiro e muita esperança
Da paixão sem medidas que eu sentia
Por ela
E que ela sentia por mim
Talvez sem ter me dado conta
Tenhamos mesmo nos amado
Naquela hora em que ficamos nus
E nos abraçamos em pé e nos beijamos
Antes do amor
enquanto o e-mail não vem
engulo a ânsia da espera

a seqüência  digitada engolindo o monitor
tua boca cheia de bobagens
deixadas em forma de mansagens 

procuro no facebook
alguma fagulha de desejo e não vejo
nunca mais  carne real
bom saber: o amor é digital

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Da série
embarcados

Como se aprisiona um rio para si
Não há moirões na água
Arame para circular uma cidade

Apenas um poço de nuvens
Engolidos nos mergulhos
Nas voltas infindáveis da geografia

Onde encontrar  o calor dos outonos
As sombras desvanecidas
A pouca cor dos trapiches adernados

Como amarrar um navio fosse um bicho
Segurá-lo na corrente contra  o  terral
Se a noite se esconde na luz do farol

Se a noite sussurra nas tralhas das redes
A solidão dos beliches sem ar
Da tinta envenenada manchada  de mar

Que se tome um banho de água doce
Para prender o rio sob a pele  do rosto
Se tirar das mãos as escamas das unhas

Para se prender o rio na memória do poema
Feito  um navio na geografia da cidade
É preciso inventar um mapa no coração




a gueixa no ikebukuro - compra burritos no 7 eleven - todos a observam - enquanto liga o microondas
pensando na eternidade
seu neni queria que vicente olhasse seu rosto

seu neto de três anos
depois de dez segundos corria para o sol

o velho  fazia isso
para que vicente nunca o esquecesse

terça-feira, 3 de junho de 2014

Poema para acabar

Eis as manhãs  de verão  e  seus  barulhos nos bairros
A escola parada
Os passarinhos cantando mesmo presos
E uma preguiça de sexta feira

Há uma certa imunidade um silêncio
Longe das padarias
Por isso o fim da poesia

Para um café que me acorde